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Adriano Miranda – crónicas, e lágrimas, de um homem bom.
O auditório cheio esperava-o. Não é todos os dias que recebemos convidados , muito menos que nos criem tamanhas expectativas. Ainda não tinha aberto a mala cinzenta de onde retiraria um portátil que nos haveria de encantar – pela beleza e dureza das suas fotografias da guerra – e já a sala transbordava com a cumplicidade do seu olhar que fazia adivinhar aos desconhecidos um homem bom.
O Adriano – é assim que quer que o tratemos – com a generosidade que lhe conheço há anos, falou e comoveu-nos. Comoveu-se e fez-nos falar. Disse-nos da liberdade em tempos sombrios. Disse-nos da humanidade que insiste em respirar nos gestos que resistem ao desespero. Falou-nos dos seus traumas, dos olhos aflitos das infâncias chorando os destroços que ninguém pode entender. Disse-nos dos escombros onde insistimos em enterrar o que nos poderia eternizar: a solidariedade e a fraternidade, a mesma que aprendeu ao colo do avô e que agora sibila aos filhos, logo que consegue abstrair-se, largar por breves momentos a angústia que o consome ao pensar na criança que aqui deixamos – numa das suas memoráveis fotografias.
Disse-nos da propaganda e da vanguarda do pensamento livre. Alertou-nos para a urgência de sabermos separar o trigo do joio, como outrora outras gerações para que a fome não fosse tanta. Disse-nos que o sonho comanda a vida. E que atrás das armas apenas os covardes. Disse que amava Abril e a liberdade. Disse-nos que, como o Fanha, ERA PORTUGUÊS AQUI, deste lado da cidade/nesta margem/ no meio da tempestade/ durante o reino do medo.
Depois, como chegou, apanhou o comboio para casa. Passou e deixou um rastro de humanidade. Ficámos com as crónicas, as fotografias e as lágrimas de um homem bom.
Obrigado, Adriano.
Texto: António Galamba, Professor do ICE
Nota biográfica de Adriano Miranda:
Adriano Miranda nasceu em 1966 em Aveiro, estudou na Cooperativa Árvore e é fotojornalista do jornal Público desde 1994. Ao longo da sua vida, participou em várias exposições na América Latina e na Europa. Foi vencedor do prémio na categoria de Retrato da Estação Imagem em 2011, do prémio Gazeta em 2017 e do prémio de jornalismo da Rede Europeia Anti-pobreza. Tem vários livros publicados e leciona no IPCI e na Escola Superior de Jornalismo no Porto. Foi o primeiro enviado especial do Público à guerra da Ucrânia.
Dia seis de Junho esteve connosco, na nossa escola, a convite do Departamento de Línguas. Das suas crónicas e fotografias sublinhamos a humanidade. Comoveu-se e comoveu-nos. E deixou-nos, a todos, muito mais ricos.